16 fevereiro 2015

Ninguém Entende

- Você não sai dessa casa há uma semana.
- E?
- Você não pode viver o resto da sua vida trancada nesse quarto. Sei que você está, sabe-se lá, doente...
- É, estou. Você não está sentindo do mesmo jeito que eu todos os dias, mas se estivesse, moverias montanhas para resolver.
- Ah, para de ser fraca.

Seus olhos tinham pequenos pontos de brilhos se esvaindo, era notável a fraqueza daquela luz que costumava ficar presa bem na borda de suas pupilas. Também não era de se deixar passar despercebido as bolsas se formando logo abaixo dos antigos diamantes castanhos, era como ver sujeira escondendo um par de ônix negros. Mas isso são detalhes, mero detalhes. Nada disso se compara ao todo, aos ombros caídos, a coluna levemente curva, as pernas que caminhavam procurando por força, os pés que se arrastavam... E o olhar baixo.

Assim como aqueles olhos sem esperança, seus lábios mostravam nem tentativas de emoções, apenas muitas repetições de abre e fecha a boca, pois vontade de falar era o que não lhe faltava, pois precisava, mas estava sufocando a cada minuto que percebia que nem sua presença era notável. O silêncio foi gradualmente se instalando por seu corpo, logo sua vida não passava de conversas, discussões, brigas mentais. Se cansou de lutar por quem era, apenas concordava ou se calava, em sua mente, ter alguém para se comunicar é melhor do que incomodar. Preferia fazer os outros felizes do que se importar consigo, dane-se, pensou pra si.

Queria companhia. Queria ajuda. Queria alguma pessoa só para falar coisas, nem precisa fazer sentido, o importante é saber que tem alguém ali sem julgamentos. Que quebre e esmague seus sentimentos com pequenas palavras, ações que lhe fazem sentir inferior, não tem problema, a briga vai acontecer mentalmente em segundos e, tudo então poderá ser ignorado como se não tivesse acontecido, assim se acostumou.

Muitos não entendem. Nem sua família. Seu corpo estava destruído, não emocionalmente ou qualquer coisa causada pelo seu psicológico fraco. Era físico, é físico. Se sentia doente, cansada, sem ânimo, pois é assim que realmente estava, sentia como se a qualquer momento fosse necessário fazer uma cirurgia de emergência. Tanto nervosismo que o próprio médico chegou a passar uma receita com remédio para ansiedade. Gritava, gritava internamente várias vezes pedindo por socorro, seu corpo tinha se esgotado e só o que as pessoas lhe perguntavam é por que não saia de casa. Mas como? Para ter que sofrer em um lugar público e ainda ter ninguém para compreender até mesmo quando explicava? Não, parou de se importar até com as brigas por causa disso, só repetia milhares de vezes o problema com a última gota de esperança para que entendessem.

- Nós vamos dar um jeito. Nós sempre damos. – Refletiu pra si mesma.



Obs: Partes inspiradas no episódio About a Boy de Supernatural.

Não tenho câncer, não tenho qualquer doença fatal ou muito séria (na verdade, não sei disso), mas fiz esse texto há algum tempo e meu ponto com ele é mostrar que é normal se esconder quando está doente com algo sério, você tem esse direito. E as pessoas em volta? Não tem problema se elas não entenderem, o que importa é você se sentir bem do jeito que achar melhor.

2 comentários:

  1. É, mas nem sempre ficar se escondendo é a melhor maneira. Pode ficar escondida por um tempo, mas tem que se permitir pelo menos uma vez no mundo a fora pra ver o que pode acontecer. Até porque muitas coisas podem acontecer né?

    Beijos!
    www.likeparadise.com.br

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    1. Sim, claro! Ninguém deve se esquecer do tanto de vida que tem lá fora, aliás, quando as pessoas ficarem realmente melhores, terão que voltar a viver tudo normalmente. =)
      Beijos!

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